A vida passando por sob, e sobre o os nossos olhos nos aquece, nos colore e nos adjetiva abstratamente até o infinito. Um infinito que se esvai tão rápido quanto uma roda de carro pode passar por cima de você.
E você sendo sujeito ou alvo da ação, não importa, é ator da vida. Essa coisa magnífica invisível a que somos apegados e a que temos uma paixão expressa no medo de deixá-la. Eu amava a vida da minha gata. Gatinha, e sem nenhum direito ou pudr eu a tirei. Eu amava o conjunto, gata com vida. A gata, apenas corpo, significava muito pra mim, mas eu sabia, com dor, que era algo que tinha que ser superado. O corpo a terra voltaria. Assim então eu amo a terra. Mas ela não está dissociada entre olhos úmidos, pelos macios, ronronar e rabo a me acariciar.
Não consigo. O que sinto pela terra talvez seja uma atração carnal do positivo pelo positivo, afinal, somos o mesmo. Mas a Gatinha, diferente da terra, tinha o sangue, o impulso vermelho que a fazia correr, mostrar seus dentes, dilacerar sua comida, viver assim como eu. Isso acima de tudo me atraia a ela muito mais do que a terra me atrai. No entanto agora que seu sangue é frio, eu sinto falta de seu calor, eu a quero aqui comigo de companhia mas a resposta é simplesmente não. Não vai mudar nunca. E esse nunca quer dizer pra sempre.
(contexto real: a Gatinha era minha gata querida, tinha 9 anos e eu a atropelei com o carro na garagem de casa em meados de junho desse ano)
Um comentário:
"E esse nunca quer dizer pra sempre."
muito bom
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