sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Amora

- Senhor. (olhar baixo, dobra as pernas em pliê segurando o vestido)
- Senhora. (reverência com o chapéu)
- Meu amor.
- Minha Amora.


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A gente tá na época de amora. Frutinha pequena, bonita em sua beleza. Eu, particularmente não gosto (agüento? consigo? – drama) passar sob uma amoreira e ficar sem pegar pelo menos uma e sentir seu gosto azedoce. Na ênfase de comê-las eu pegava de qualquer jeito em minha brutalidade e elas sangravam em minha mão (cuidado com sangue de amora, marca pra sempre: mancha).
Mas não sei se vocês sabem, existe um jeito especial de colher amoras. É fácil – elas estão lá quase que só para serem colhidas – basta girá-las, e, em um ângulo mágico, seu cabinho vai se desprender e ela vai se dar a você. Sou tua. E girar com delicadeza como quem pega o nada.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Alô?

Quero que essa dor de cabeça passe,
quero carinho,
quero minha gatinha viva,
quero quatro quilos a menos,
quero passar em macro micro e estatística,
quero que meu pai e minha mãe acertem o divórcio sem ser no litigioso,
quero não ir mais no doutor Capello,
quero nunca mais ter que cortar as unhas do pé,
nem ter que escovar os dentes antes de dormir.
Quero aprender francês,
quero estar sempre cheirosa - cheiro de mim,
quero não cometer erros de português.
Quero querer a morte,
e não temer a vida.

Aqui não cabe tudo o que quero.
De qualquer maneira, não é de tudo impossível.
Mas com quem estou falando?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Psicologicamente grávida

Estou psicologicamente grávida: não menstruo mais, e de meus seios sai leite (será o contrário do sangue o leite?). Em minha barriga desenvolve-se a vida, vida do mundo meu mundo.
Pintei minhas unhas de vermelho. Será o meu subconsciente - sub ali em baixo - que quer ver, bonitas, minhas unhas, sangrando, imitando vida?
Vida na ponta dos meus dedos que tanto fazem por se sentir.

"Cala a boca - olha a noite. Olha o frio."
O frio é um manto, que aquece meu bebê sozinho.

Meus sentidos não comportam tudo que sinto. É uma questão de ser insentível.
Quando, luz!, identifico o que sinto, sentindo por tudo sobre mim, me formigo toda estranhamente como se a dúvida me perpassasse.
(depois fico leve, é gostoso).

Uma coisa diferente, o que me deixa angustiada e sem rumo. Mas os pés andam assim mesmo. Acumulo vontade desnorteadas.
to fazendo meu caminhooooooooo êoooo-laiá laa...
Mas nao é um caminho assim bonitinho. Tá zuado.
(mas é um caminho que tem orgulho de ter sido um)

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

a árvore e suas flores

era uma vez uma árvore. era marrom. mais parecia um galho que a terra tinha cuspido, de tão fina e sozinha que era, mas a pessoas a chamavam de árvore. (ela tinha assim outros galinhos, como se fossem seus filinhos, mas ela, ela mesma, parecia um galho preso no chão pela vontade de viver e estar em pé se mostrando: "oi!" - em pensamento de árvore).
e tinha duas flores, uma azul e outra amarela.

viva, vivamos! amanhã começa a primavera.

ela gostava também de flores vermelhas, mas, quanta força ela tinha feito pra ter uma flor de cada cor! nem tinha mais folhas, mas em compensação bebia muita muita água.
"a flor vermelha é tão bonita. e a azul e a amarela também. qual a mais bonita?"
pensando bem, a árvore chegou a conclusão que se ela tivesse uma flor de cada cor, ela não seria mais uma árvore, e sim um buquê, ou um jardim, numa só árvore. que coisa(mão-galho na cabeça-galho indaga pensamento-galho).
com força de dar sede e provocar ranhura, força retumbada na dor da perda, a árvore se desprendeu da flor amarela e da flor azul.
virou galho.


ERRATA: amanhã, 21/09, não começa a primavera. amanhã é dia da ávore!! a primavera começa domingo dia 23 de setembro.
(curiosidade descuriosa: verão e primavera começam no dia 23, só outono e inverno começam no dia 21)
aliás, coincidência transparente o texto de árvore e o dia da árvore.
e ah! domingo dia 23 de setembro além de ser primavera é também dia do sorvete! (créditos by butti)

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Sono intangível

Mas que sonho louco é esta vida, em que quero dormir quando acordo e viver quando durmo.
Aonde vou quando não estou aqui?
Pra onde irei quando nunca mais estiver aqui?
De que é feita minha memória?
Me são colocados objetivos tão práticos, mas não tenho prazer em alcançá-los.
Terei prazer em renegá-los?
Sons e imagens tudo tão bonito. Uma beleza indescritível em palavras, e é nisso que eu tenho prazeres, na beleza. E que beleza! Que me sensaciona.
Mas acontece que às vezes fico cega de sentir e meu prazer se esvai, cegam-no, com até mesmo corte de faca cega (tão fácil culpar ou outros que não você, ou o outro dentro de você mesmo). Ou me iludo que não realizo a sensação – por já a ter vivido imaginariamente? –, e não vivo intenso quanto é a intenção da vida.
Durmo acordada em minha imaginação que não é sonho por me ser consciente. Da mesma matéria da lembrança que está na memória, só que ao contrário.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Fato (...mentira..!)

Isso é um pouco ingrato. Litera completa total, mente. Fato que sou o que escrevo, e escrevo o que sinto, mas. Não gosto de saber me reconhecer na feiúra das palavras, ou em que se tem de não belo, quase grotesco delas. Entretanto é que me firma no chão, me cravando em pé (e preciso disso também pra me afirmar como bela).
Me nego porque em primeira instância eu recuso, me dói, até ofende, ouvir aquilo que sou exata-mente. É que saindo da minha própria boca isso não fere, sou tão mansa em minha ofensa.
Mas quando sou reconhecida.

Aceitar ser o que agora estou é uma grande dor e revelação.

Mas esse revelar-se é tão nebuloso (eu por mim nos meus olhos sou, sou a farsa, o que é claro, mas é claro fraco. Só que quando o eu por mim, repassado por outros eus que não eu, rebate de volta, ricocheteia com força da verdade a que estou alheia mas que é minha realidade e então dói). E o aceitar então? É ver e assistir passivo quando ativo já se é na dor? Estou numa constante e lenta regurgitação de mim mesma.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Traduzeu

Antes de fazer uma poesia
Eu queria aprender a falar

A me transmitir com as pontas dos meus dedos,
mas não em letras pretas.

Fazer do meu cheiro uma voz
E de meus olhares seu idioma
Seria uma língua universal,
sem discriminação ou escolha

Meu corpo todo, minha porta,
Meus ouvidos a fechadura
(mas a luz tá apagada lá dentro!)
e a chave perdidamente aberta

mas nem que eu fizesse uma poesia.